Saturday, December 28, 2013

O vendedor de carros usados

Acho engraçado quando alguém com um estereótipo negativo não faz esforço algum pra se descolar dele. O vendedor de carros usados é um exemplo clássico da literatura econômica sobre assimetria de informações. Apesar do nome bonito, o conceito é tão simples quanto genial e eminentemente humano. Aliás a economia me fascina por fazer desses padrões inerentes às interações humanas, elegantes fórmulas matemáticas.

 Digressões à parte, na transação comercial de um carro usado, o vendedor tem mais acesso à informações relevantes ao negócio que o comprador. Ele sabe se o carro foi batido e reparado, se tem aquele problema mecânico intermitente, etc. Mas sabe sobretudo, como tratou o carro no tempo em que foi o proprietário (se fez as manutenções devidas no tempo certo, se se preocupou em não usar gasolina vagabunda pra economizar uns centavos e se era cuidadoso ao dirigir, poupando a máquina de desgastes desnecessários).

 Essa assimetria de informações tem alguns efeitos interessantes e deletérios. E neste ponto a teoria dos jogos entra de forma brilhante. O vendedor sabe que tem informações relevantes sobre as quais tem exclusividade. Sabe também que mesmo utilizando todos os mecanismos disponíveis, o comprador não terá acesso a estas informações. Assim, o vendedor está seguro de estar em vantagem. Por isso, não há incentivo algum para que os cuidados com o carro sejam feitos adequadamente (pelo menos não do ponto de vista comercial).

 O problema, ou solução, é que via de regra o comprador sabe o que não sabe. E sabe também o que não tem como saber, e que o vendedor pode omitir essas informações sem nenhum prejuízo para si (a moral cristã não é muito popular nesses casos). Por isso, também não está disposto a pagar muito por um bem relativamente caro do qual possui uma compreensão limitada. Este é um dos fatores que puxa o preço de todos os carros usados para baixo e o mercado é chamado carinhosamente de "lemon market", porque a compra pode ter um fim azedo.

 Voltando a aquele vendedor. Seria inteligente para que não haja destruição de valor (preço que o comprador se dispõe a pagar), evitar qualquer comportamento que desse margem à desconfiança de que há algo errado. E no entanto, ao menos os últimos vendedores de carros usados com quem tive o desprazer de interagir não fizeram questão nenhuma de evitar estes comportamentos. O que me traz a uma conclusão pouco auspiciosa, e que denota uma visão negativa do ser humano em geral (desculpe por terminar o texto em tom menor).

O ser humano é muitas vezes prisioneiro do seu egoísmo ou auto-interesse. E assim acaba por não extrair o benefício potencial total das transações, comprometendo a própria satisfação e, no fim das contas, utilidade.

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